sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Livros mostraram a Obama o poder das palavras

Barack Obama - que começou seu mandato como prsidente dos EUA com o pé direito e a mão esquerda, mandando fechar a câmara de torturas de Gantánamo - venceu na vida e se tornou o homem mais poderoso do mundo graças à sua inteligência, seu carisma e aos livros, que lhe mostraram o poder das palavras. É o que revela a seguinte reportagem, publicada na edição de 20 de janeiro da Folha de S. Paulo (os grifos são meus):

Livros mostraram ao eleito poder das palavras

Desde jovem, Obama cultivou paixão por literatura

MICHIKO KAKUTANI
DO "NEW YORK TIMES"

Quando estava na faculdade e começou a protestar contra o apartheid na África do Sul, Barack Obama percebeu, como escreveu em um de seus livros, que "as pessoas começaram a escutar minhas opiniões". As palavras, compreendeu o jovem Obama, tinham o poder "de transformar": "Com as palavras certas tudo poderia ser mudado: a África do Sul, as vidas das crianças do gueto perto de onde eu vivia, o precário lugar que eu ocupava no mundo".

Obama recebeu elogios por sua capacidade de usar palavras para inspirar, mas sua apreciação pela magia da linguagem e seu amor pela leitura não só o dotaram de uma rara capacidade de comunicar suas ideias a milhões de americanos como também ajudaram a definir seu senso de identidade e sua percepção do mundo.

O primeiro livro de Obama, "A Origem dos Meus Sonhos", (decerto a mais evocativa e franca autobiografia já escrita por um futuro presidente), sugere que ao longo de sua vida ele recorreu aos livros como ferramentas para obter informações sobre os outros e como meio de romper a bolha da individualidade e - mais recentemente - a do poder e da fama.

Ele recorda ter lido escritores negros como James Baldwin, Ralph Ellison, Langston Hughes, Richard Wright e W. E. B. DuBois ainda na adolescência, em um esforço para compreender sua identidade racial. Mais tarde, durante a faculdade, mergulhou nos pensamentos de autores como Santo Agostinho e Nietzsche.

Quando menino, na Indonésia, Obama aprendeu sobre o movimento dos direitos civis nos EUA por meio de livros que lhe foram dados por sua mãe. Quando começou sua carreira como organizador comunitário em Chicago, se inspirou em "Parting the Waters", primeiro volume da biografia de Martin Luther King Jr. escrita por Taylor Branch.

Mais recentemente, Obama encontrou nos livros algumas ideias concretas sobre governo; circulou a informação de que "Team of Rivals", o livro de Doris Kearns Goodwin sobre a decisão de Abraham Lincoln de incluir antigos rivais em seu gabinete, ajudou a orientar a decisão de Obama de indicar sua principal rival no Partido Democrata, Hillary Clinton, para o Departamento de Estado.

Obama tende a abordar a leitura de maneira seletiva - ele reflete sobre as ideias dos escritores e escolhe as que complementam sua visão do mundo. Seu predecessor, George W. Bush, em contraste, tendia a adotar as ideias de um autor apaixonadamente, de forma quase obsessiva.

Obama tende a preferir histórias não ideológicas e trabalhos filosóficos que tratam de problemas complexos e sem soluções fáceis, como os trabalhos de Reinhold Niebuhr, que enfatizam a natureza ambivalente dos seres humanos.

Como Baldwin observou certa vez, a linguagem é tanto "um instrumento político, um meio e prova de poder", quanto "a mais crucial chave para a identidade; ela revela a identidade privada e conecta ou separa a pessoa da identidade mais ampla, pública ou comunitária".

Para Obama, cuja trajetória de vida é vista por muitos eleitores como uma concretização do sonho americano, a identidade e o relacionamento entre a esfera pessoal e a pública continuam a ser questões cruciais.

De fato, "A Origem dos Meus Sonhos", escrito antes de ele ter entrado na política, era tanto um romance de formação quanto uma busca autobiográfica para compreender as próprias raízes.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2001200909.htm

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