sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Kenneth Maxwell fala sobre Bush e Cuba

Keneth Maxwell escreve às quintas-feiras na Folha de S. Paulo. Neste artigo, ele fala sobre a democratização de Cuba e sobre a hipocrisia dos EUA, que pregam democracia para a ilha mas mantêm lá uma prisão em que os direitos mais básicos dos prisioneiros são desrespeitados.

Bush e Cuba
(Keneth Maxwell)

Nesta terça-feira, em Nova York, a Assembléia Geral da ONU votou pela décima sexta vez contra o embargo econômico a Cuba. Só os Estados Unidos, Israel, as Ilhas Marshall e Palau votaram a favor. Se há uma política que merece ser definida inequivocamente como fracasso é o embargo econômico que os Estados Unidos impuseram a Cuba há cinco décadas. Diversos presidentes assumiram o cargo e o deixaram, nos EUA, desde que Fidel Castro tomou Havana, em 1959. E agora, aos 81 anos e muito doente, ele continua lá; na prática, aliás, Castro conseguiu orquestrar uma transição suave do poder para o seu irmão Raúl -mais pragmático, menos ideológico e definitivamente menos carismático.

Mas, se os 700 mil exilados cubanos inimigos de Castro que se instalaram em Miami e no condado de Dade, na Flórida, não foram capazes de promover uma "mudança de regime" na ilha, eles exerceram influência crucial sobre a "mudança de regime" nos Estados Unidos, já que seu poder político ajudou a dar a vitória a Bush nas muito contestadas eleições presidenciais de 2000, gerando as condições para que a Corte Suprema norte-americana subseqüentemente confirmasse Bush, e não Gore, como presidente. A família Bush sabe que deve -e deve muito- aos cubanos.

Não surpreende, portanto, que, no momento em que o governo Bush enfim volta suas atenções à América Latina, depois de sete anos de negligência, como aconteceu na semana passada com a proposta de um grande programa de assistência à guerra do México contra as drogas e com a busca de apoio político a um acordo de livre comércio com a Colômbia, Bush tenha também convocado o corpo diplomático, a imprensa e um grupo de dissidentes cubanos para ressuscitar uma vez mais o velho ogro que vive do lado de lá do estreito da Flórida. Ele também propôs um "Fundo da Liberdade", para ajudar o governo cubano pós-Castro, rejeitou a idéia de qualquer diálogo com Raúl e classificou a ilha como "Gulag tropical".

Ninguém negaria que não existe liberdade em Cuba. Mas o "Gulag tropical" que existe na ilha no momento não foi criado por Castro -o responsável por ele é Bush, e o nome do lugar é Gitmo. Trata-se da base norte-americana na baía de Guantánamo, na qual Bush nega as proteções constitucionais e os procedimentos normais da Justiça norte-americana aos prisioneiros islâmicos lá detidos por prazo indefinido. Esse não é um bom exemplo de democracia norte-americana, para os cubanos.


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0111200706.htm

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