terça-feira, 27 de maio de 2008

O mito romântico dos guerrilheiros da democracia

Precisamos acabar com esse mito romântico de que os guerrilheiros da luta armada contra a ditadura eram combatentes da democracia. Na verdade, a grande maioria deles queria mesmo era implantar um outro tipo de ditadura no Brasil, tão assassino e anti-democrático quanto era a ditadura militar. Ou pior, como se viu na URSS de Stalin, na China de Mao e no Camboja de Pol Pot, para não falar na Cuba de Fidel, ainda prendendo dissidentes políticos e censurando a imprensa. O texto abaixo, de autoria do prestigiado jornalista Ricardo Noblat, deixa isto bem claro: houve democratas que combateram a ditadura, como Ulysses Guimarães Tancredo Neves, assim como instituições como a OAB e a Igreja Católica, mas também havia grupelhos, como os que eram integrados por Dilma Roussef e José Dirceu, que na verdade queriam mesmo era uma outra ditadura, na qual eles seriam os ditadores.

O GERME DO AUTORITARISMO

(Ricardo Noblat)

Fui preso quatro vezes durante a ditadura militar inaugurada no país em 1964. Estudava jornalismo no Recife e ao mesmo tempo trabalhava em jornais. Em 1969, eu e mais vinte e poucos colegas fomos expulsos da Universidade Católica de Pernambuco, acusados de subversão. E durante um ano proibidos de estudar em qualquer outra universidade. Fiquei desempregado por algum tempo.

Eu simpatizava com a Ação Popular, uma das muitas organizações de esquerda que lutavam contra a ditadura. Mas nunca a ela me filiei - nem a nenhuma outra. Sabia que não dava para ser jornalista e militante político ao mesmo tempo - e o jornalismo me atraía mais. E não estava convencido de que o comunismo era a salvação do mundo. Não queria trocar a ditadura que nos esmagava por qualquer outro tipo de ditadura.

Todas ou quase todas as organizações que pregavam o fim da ditadura rejeitavam o modelo de "democracia burguesa" que temos hoje, aqui e na maior parte do mundo. Eu respeitava quem pensava assim, mas não estava convencido do acerto de sua opção - pelo contrário. E não via a mais remota chance de sucesso na tentativa de se derrubar a ditadura via luta armada. Ela venceria, como de fato venceu.

Parte dos jovens daquela época era "generosa", como observou, ontem, a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, em entrevista ao Programa do Jô. Por generosa, entenda-se: capaz de arriscar a integridade física em defesa de suas idéias. Mas isso não quer dizer que suas idéias fossem corretas. Ou Dilma ainda acredita na "ditadura do proletariado"? Ou ainda acredita que "o poder está na ponta do fuzil"? Não creio.

Tenho horror e nojo à ditadura, como disse certa vez o deputado Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB. E a todas as suas práticas - a suspensão dos direitos e garantias individuais, a tortura e a morte dos seus adversários. Mas por ter combatido a ditadura de 64 ao meu modo, e arrostado com as consequências disso, não me acho merecedor de indenizações ou de qualquer outro tipo de reconhecimento.

A glorificação dos que enfrentaram armados a ditadura pensando em substitui-la por outra revela oportunismo e a dificuldade de se abdicar de idéias carcomidas . Há nisso também muito de arrogância e de autoritarismo.

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

Um comentário:

FADI - LII Noturno disse...

Professor...o endereço do nosso blog mudou para www.fadinoturno52.blogspot.com
Abraços!