sexta-feira, 26 de março de 2010

Devaneio autocrático (mais um)

Editorial da Folha de S. Paulo de 25/03/10 alerta, mais uma vez, para a tendência antidemocrática de Lula e seus acólitos. Hoje, vemos no mesmo jornal que Chávez mandou prender o dono da única emissora que ousa fazer oposição à sua ditadura. Fiquemos atentos, pois só se dá valor à liberdade quando a perdemos.

Devaneio autocrático

O vezo antidemocrático de Lula se expõe quando o que está em pauta é a divergência de opinião e a liberdade de imprensa

A DEMOCRACIA , numa definição de manual, é um sistema de governo no qual o povo exerce a soberania e elege seus dirigentes por meio de eleições periódicas; é um regime em que estão asseguradas as liberdades de associação e de expressão. Todos esses princípios estão plasmados na Constituição de 1988 -ela própria uma conquista democrática.
Isso tudo é óbvio. Mas quem impele a repisá-lo é o presidente da República. Na versão de Luiz Inácio Lula da Silva, a democracia muito frequentemente -e cada vez mais- surge como se fosse uma concessão da sua vontade. Ele não parece tratá-la como valor, mas como capricho.
O vezo autoritário do mandatário se torna flagrante quando o que está em questão é a divergência de opinião ou o compromisso com a liberdade de imprensa. Lula não tolera ser criticado e convive mal com esforços de fiscalização de seu governo.
Ontem, numa cerimônia, ele disse: "Acabei de inaugurar 2.000 casas, não sai uma nota. Caiu um barraco, tem manchete. É uma predileção pela desgraça. É triste quando a pessoa tem dois olhos bons e não quer enxergar. Quando a pessoa tem direito de escrever a coisa certa e escreve a coisa errada. É triste, melancólico, para um governo republicano como o nosso".
Talvez seja o caso de mencionar os mensaleiros, os aloprados, o "roçado de escândalos" da aliança com o PMDB. Ou, ainda, os benefícios pouco ortodoxos concedidos com dinheiro público a algumas empresas que este governo elegeu para implementar sua versão de "capitalismo de Estado". Nada disso compõe um figurino "republicano".
O que mais impressiona, porém, é o raciocínio embutido na seguinte frase de Lula: "É triste quando a pessoa tem o direito de escrever a coisa certa e escreve a coisa errada". É uma afirmação tosca, sem dúvida, mas antes disso autocrática. Não faz sentido no contexto da democracia.
A imprensa tem de ser livre, inclusive para errar -e responder por isso perante seu público ou à Justiça, sempre que for o caso. Essa liberdade atende sobretudo ao direito do cidadão de ter acesso a informações.
Lula disse ainda que "setores da imprensa" deveriam olhar para pesquisas de opinião antes de tirar conclusões sobre ações públicas de seu governo. Em alguns casos, como o desta Folha, as pesquisas são realizadas pelas mesmas empresas cujo trabalho Lula busca desqualificar.
Tampouco é verdadeira sua afirmação de que avanços sociais ou do país obtidos neste governo não tenham sido noticiados. Foram -e de maneira exaustiva.
O problema é outro. Recentemente, o presidente da República agrediu os valores democráticos ao equiparar os presos políticos de Cuba aos presos comuns do Brasil -e endossar os crimes de uma ditadura.
Agora, ao criticar mais uma vez a imprensa, comporta-se como quem aspira à unanimidade -algo que está longe de ser um padrão democrático.

4 comentários:

Teresa disse...

ô, professor, que que quer dizer acólito??

:-)

Professor Marum disse...

Cara Teresa, é um prazer ver que você está seguindo o meu blog!

Eu ia escrever "Lula e sua quadrilha", mas depois lembrei que o Procurador-Geral da República não incluiu Ali Babá no processo contra os 40 ladrões do mensalão. Então, optei por "acólitos", que, no dicionário lulista quer dizer "cumpanhêro", como Lula agora chama Sarney, Collor e Maluf.

Um abraço e continue mandando comentários!

Anônimo disse...

Se o Procurador-Geral da República não indiciou Lula pelas ilegalidades do mensalão,é sinal de que a participação do Presidente no ocorrido teve matizes muito menos fortes do que os alegados por alguns.
Ou será o senhor, professor, um descrente do discernimento e ética da Justiça brasileira?
Outrossim, a Folha de S. Paulo, como integrante da imprensa apoiadora do Golpe Cívico-Militar de 31 de Março de 1964, não tem autoridade moral para externar opiniões relativas à prática ou não da Democracia constitucionalizada.
Fikadika ;D

Professor Marum disse...

Caro Anônimo (ou Anônima),

Com todo respeito ao Procurador-Geral, eu discordo da atitude dele ao não denuniciar Lula como o chefe do mensalão. E ainda bem que ainda vivemos numa democracia, na qual podemos ter opiniões divergentes.

Quanto à Folha de S. Paulo, o fato dela ter apoiado o golpe de 64 há mais de 40 anos não retira dela o papel que ela tem para a democracia HOJE, ainda mais quando Lula e seus acólitos flertam com ditaduras sanguinárias como as de Cuba e do Irã e com projetos totalitários como o de Chávez.