segunda-feira, 12 de março de 2007

Estado com maiúscula ou com minúscula?

A "Carta ao Leitor" da revista Veja desta semana discute se o termo "Estado", no sentido de "sociedade política", deve ser escrito com inicial maiúscula ou minúscula. A revista, contrairando os dicionários (e os manuais de Teoria do Estado), opta pela inicial minúscula, ligado essa opção à sua ideologia política, de direita liberal, que prega a mínima intervenção do Estado na vida social. Da minha parte, continuarei grafando "Estado" com maiúscula e recomendando esse uso aos alunos, pois acredito que não se trata de opção ideológica, mas do correto uso de um termo técnico. Abaixo, o texto de Veja:

Uma questão de estado

A partir desta edição VEJA passará a grafar a palavra estado com letra minúscula. Se povo, sociedade, indivíduo, pessoa, liberdade, instituições, democracia, justiça são escritas com minúscula, não há razão para escrever estado com maiúscula. Os dicionaristas aconselham o uso de capitular quando a palavra for usada na acepção de "nação politicamente organizada", como prescreve o Aurélio. Seu rival Houaiss também assevera que estado nesse sentido se grafa com maiúscula. Vale a pena contrariá-los.

Escrever estado com inicial maiúscula, quando cidadão ou contribuinte vão assim mesmo, em minúsculas, é uma deformação típica mas não exclusivamente brasileira. Os franceses, estado-dependentes, adoradores de seu generoso cofre nacional, escrevem "État". Os povos de língua inglesa, generalizando, esperam do estado a distribuição equânime da justiça, o respeito a contratos e à propriedade e a defesa das fronteiras. Mas não consideram uma dádiva do estado o direito à boa vida material sem esforço. Grafam "state".

Com maiúscula, estado simboliza uma visão de mundo distorcida, de dependência do poder central, de fé cega e irracional na força superior de um ente capaz de conduzir os destinos de cada uma das pessoas. O escocês Adam Smith (1723-1790) nunca escreveu a palavra capitalismo. O inglês Thomas Hobbes (1588-1679) não utilizou a palavra estado. Ambos, porém, são associados a esses termos. Smith, autor de A Riqueza das Nações, como o primeiro pensador a explicar o funcionamento da economia capitalista. Hobbes, com seu Leviatã, como pioneiro na denúncia do estado pantagruélico. Foi, na verdade, defensor de uma instituição capaz de livrar a sociedade do estado permanente de guerra entre os indivíduos, uma "entidade soberana" – em minúsculas, recomendava Hobbes, que escrevia Lei sempre com capitular.

Grafar estado é uma pequena contribuição de VEJA para a demolição da noção disfuncional de que se pode esperar tudo de um centralismo provedor. Em inglês grafa-se "Eu" sempre em maiúscula, na entronização simbólica do indivíduo. Não o faremos. Nem vamos tirar a capitular da palavra Deus. A tentativa é refletir uma dimensão mais equilibrada da vida em sociedade, como a proposta pelo poeta francês Paul Valéry (1871-1945): "Se o estado é forte, esmaga-nos. Se é fraco, perecemos".

6 comentários:

Bruno J Gomes disse...

Caro Professor Marum, nós do 1o ano noturno da FADI gostaríamos da sua visita em bachareis2011fadi.blogspot.com
Um forte abraço
Bruno Gomes (Reperesentante)

Bruno J Gomes disse...

Caro professor Marum, nó do primeiro ano noturno da FADI gostaríamos da sua visita em www.bachareis2011fadi.blogspot.com
Um abraço,
Bruno Gomes (representante)

Anônimo disse...

Caro professor Marum, nó do primeiro ano noturno da FADI gostaríamos da sua visita em www.bachareis2011fadi.blogspot.com
Um abraço,
Bruno Gomes (representante)

Anônimo disse...

Caro Marum..
Ao meu entender a reunião das sociedades, indivíduos, justiça, democracia, liberdade, entre outros, é o Estado. A SOBERANIA desde é incontestável, é uma aglomeração das instituições, cada indíviduo, garantias fundamentais acima mencionados. Não justifica a palavra Estado ser escrita em minúscula, uma vez que, representa um todo e necessariamente se faz, a palavra Estado ser escrita em maísculo, em destaque.

Abraço

Anônimo disse...

Profesor,
o caminho para entender a importancia da participação politica é tortuoso, visto a pouca fé depositada em nossos representantes.
Com debates e uma linha que lembre como a vida de todos é afetada de diferentes formas por uma política seja econômica,educacional, financeira e muitas vezes sem a participação ou consulta ou mesmo sem o debate necessario com a sociedade, maior interessada nos temas, as decisões serão tomadas, lembremos da questão das poupanças com Collor.
É uma pena se desistirmos de acreditar que um mundo malhor e mais digno será conquistado através de homens e mulheres na política.


Tenho filhos e neto por isto voto,acompanho, apoio e cobro meus candidatos e minhas candidatas. Ouço suas propostas , avalio o que é possivel realizar, não confio em promessas mirabolantes, não espero coisas pessoais ( lembra do discurso de Burke...) enfim o parlamentar lá esta para fazer o melhor para toda a sociedade e não para fatia -la.


Marta de Oliveira

Ana Paula disse...

Professor, como jornalista, acredito que a revista não pode valorizar de tal forma uma regra que, nada mais é senão uma parte do seu manual de redação. No jornal em que trabalho o manual aconselha a diferenciação da grafia para evitar confusões, em determinados textos, de Estado com estado de espírito, por exemplo. Aproveito para parabeniza-lo pelo empenho nas aulas e por esse blog interessante.